O Quadro e Curitiba nas telas
Os produtores de O Quadro. Da esquerda para a direita:
Anderson Simão, Evandro Scorsin, Wellington Sari, Christopher Faust e Alexandre
Rafael Garcia. Foto: O Quadro
Distante das salas de cinemas dos maiores shoppings da
cidade, existe uma Curitiba que produz e vive pelo cinema. Com filmes voltados
para a realidade local, utilizando-se dos cenários da cidade-sorriso e com
tramas que apresentam ocasiões cotidianas ou inusitadas, as produtoras
curitibanas conquistaram seu espaço e continuam realizando produções que
fortalecem a identidade cultural da cidade. É o caso da produtora O Quadro, que
desde 2010 está no mercado
produzindo filmes de projeção local e nacional com variados gêneros.
Composta por Alexandre
Rafael Garcia, Anderson Simão, Christopher Faust, Evandro Scorsin e Wellington
Sari, todos formados pelo curso de cinema da Faculdade de Artes do
Paraná/CINETVPR, a produtora já desenvolveu 25 curtas desde sua fundação, como
“Monique ao Sol”, “Coloridos”, “O Último Dia”, “Memórias do Meu Tio”, “Máquina
de Sorvetes”, entre outros.
A proposta da O Quadro
se faz interessante desde sua ideologia, que preza pela produção artística
independente, dentro das possibilidades, mesmo enfrentando todas as
dificuldades de um segmento que não é devidamente reconhecido. “Nossa ideia é a
produção de filmes artísticos, e não fazer publicidade. Ao mesmo tempo, não
concordamos que as produções sejam necessariamente bancadas pelo Estado
[através de incentivos]”, comenta Wellington Sari, um dos produtores da O
Quadro. Ele lembra que fazer cinema com esta proposta é um dilema, mas ainda
assim, a produtora consegue seus recursos para desenvolver o trabalho. Alguns,
claro, preferem obter recursos exclusivos do governo; outros se rendem a publicidade.
Nós não, somos um “meio-termo”, neste ponto somos bem idealistas e acabamos se
dando mal nessa. Mas por um lado a gente não se frustra, tanto e que estamos
aqui até hoje e conseguindo manter sem problemas”, pontua.
Como os cinco atuam na produção ocasionalmente, os
trabalhos desenvolvidos pela produtora se mostram, eventualmente, bem
diversificados e com características bem distintas conforme quem coordena a
produção. No entanto, ainda que cada um deles possua um estilo próprio, é admirável
a maneira cada um deles consegue se mostrar versátil em sua própria lista de
produções, como por exemplo, nos filmes “Garoto Barba” e “Último Dia”, de
Christopher Faust. Enquanto no primeiro, Faust preza pelo humor e por destacar
uma situação inusitada (o enredo retrata um garoto de 10 anos com uma rara
doença que faz sua barba crescer); o segundo é um agradável relato do cotidiano
(o último dia de um rapaz que se mudará para outra cidade e se despede dos
amigos bebendo e relembrando bons momentos), com diálogos naturais, o que leva
o expectador a imaginar o filme próximo da sua realidade.
”Garoto
Barba” (2010): garoto com rara doença faz pais e sociedade repensar a maneira
de enxergar a vida. O filme foi exibido no quadro “Casos e Causos”, no Programa
Revista RPC (RPCTV). Foto: O Quadro
Aliás, a naturalidade das situações é outra forte
característica das produções da O Quadro. Filmes como o próprio “O Último Dia”
(Christopher Faust, 2010), “Monique ao Sol (Wellington Sari, 2011” e “Garota
Explosiva” (Evandro Scorsin, 2012), por exemplo, prezam pela linguagem jovial –
uma forte característica da produtora – e não economizam com gírias e de
gênero.
Além das gírias, o sotaque curitibano está presente em
diversas produções, já que os atores que costumam trabalhar com a O Quadro são,
de maneira geral, paranaenses – muitos deles amigos do grupo. Às vezes, os
próprios produtores atuam como atores – eles próprios dirigem os curtas e
executam as funções em rodízio.
O Quadro também costuma explorar os espaços que Curitiba
oferece. Diversas produções foram gravadas em espaços famosos da cidade, como
“Intervalo” (Alexandre Rafael Garcia, 2010), filme gravado no Colégio Estadual
do Paraná (CEP); “Surf Surf” (Wellington Sari, 2012), gravado no Jardim
Ambiental, no bairro Hugo Lange; “Pastoreiro” (Alexandre Rafael Garcia, 2009),
gravado no Parque Barigui e “O Último Dia”, gravado próximo do Museu Oscar
Niemayer (MON).
Dos 25 curtas de O Quadro, vale destacar o dinamismo de
como as coisas discorrem durante os filmes. O silêncio e uma característica de
varias das produções, como em “Olhares” (Evandro Scorsin, 2010), e “Monique ao
Sol”, curtas cujos diálogos ocupam menos tempo e dão mais espaço às imagens,
além da maneira do enredo que não se desenvolve com o tradicional “happy end” americano.
Estas características aproximam mais O Quadro do
neorrealismo italiano e do Cinema Novo Brasileiro. Historicamente, estas
escolas influenciaram filmes muito bem avaliados por críticos de cinema, mas,
que em questão de bilheteria, não costumam ter o mesmo sucesso.
Segundo Evandro Scorsin, o fato de que os filmes da
produtora não se encaixem no perfil de filmes que são preteridos pelo “público
geral” não incomoda a O Quadro. Para ele, as produções têm um público
consumidor específico que atende a proposta da produtora. “Quando me dizem que
o público não aceita nossos filmes, eu respondo: ‘que público?’. Se for o
público de televisão, então okay! Não é o nosso público. Mas eu acho que existe
um público pra suprir todas as necessidades que o mercado impõe”, comenta.
Todas as produções de O Quadro estão disponibilizadas no
site: http://www.oquadro.net/.
Parte das obras podem ser encontradas também no canal oficial do youtube: https://www.youtube.com/user/OQuadroFilmes/videos.
Atualmente, a produtora está desenvolvendo mais seis curtas e tem um projeto
para gravar um longa-metragem em breve.
O curta "Monique ao Sol" (2011) foi gravado no
litoral paranaense. Foto: O Quadro
sete meses.
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